Após imagens reveladas com exclusividade pela CNN que mostram o general Gonçalves Dias, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), no Palácio do Planalto durante os ataques criminosos contra os Três Poderes, o ministro pediu demissão nesta quarta-feira (19).
Ele havia se reunido nesta quarta-feira com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pouco antes da CNN confirmar seu pedido de demissão. Dias era tido como um militar próximo do presidente, por ter atuado em sua segurança pessoal durante os primeiros mandatos, de 2003 a 2009, e também durante a campanha de Lula para as eleições de 2022.
O general se torna o primeiro ministro do governo de Lula a deixar o cargo.
O governo federal publicou uma nota sobre o envolvimento de militares no 8 de janeiro, mas não falou explicitamente sobre a demissão do general Gonçalves Dias.
Veja a nota na íntegra:
“A violência terrorista que se instalou no dia 8 de janeiro contra os Três Poderes da República alcançou um governo recém-empossado, portanto, com muitas equipes ainda remanescentes da gestão anterior, inclusive no Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que foram afastados nos dias subsequentes ao episódio.
As imagens do dia 8 de janeiro estão em poder da Polícia Federal, que tem desde então investigado e realizado prisões de acordo com ordens judiciais.
No dia 17 de fevereiro, a Polícia Federal pediu autorização para investigar militares e, a partir do dia 27 de fevereiro, com autorização do Supremo Tribunal Federal (STF), tem realizado tais investigações, inclusive com a realização de prisões.
Dessa forma, todos os militares envolvidos no dia 8 de janeiro já estão sendo identificados e investigados no âmbito do referido inquérito. Já foram ouvidos 81 militares, inclusive do GSI.
O governo tem tomado todas as medidas que lhe cabem na investigação do episódio.
E reafirma que todos os envolvidos em atos criminosos no dia 8 de janeiro, civis ou militares, estão sendo identificados pela Polícia Federal e apresentados ao Ministério Público e ao Poder Judiciário.
A orientação do governo permanece a mesma: não haverá impunidade para os envolvidos nos atos criminosos de 8 de janeiro”.
CPMI deve ser instalada no Congresso
Antes da confirmação do pedido de demissão, aliados do presidente Lula já avaliavam que a permanência de Gonçalves Dias no cargo iria fragilizar muito a posição do governo federal, que até esta quarta adotava uma postura de tentar evitar a instalação de Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) no Congresso para investigar os atos criminosos de 8 de janeiro. As informações são da analista de política da CNN Renata Agostini.
Para a base do governo, a revelação das imagens tornou a instauração de uma CPMI praticamente inevitável. Mesmo que pareça clara a responsabilidade pessoal de Gonçalves Dias em estar presente durante os atos criminosos, institucionalmente fica difícil negar a omissão do Gabinete de Segurança Institucional, que já vinha sendo investigado pela Polícia Federal (PF).
No Twitter, a deputada federal e presidente do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann, endossou as afirmações presentes na nota divulgada pelo governo federal e disse que os “agentes filmados colaborando com invasores do Planalto eram do governo Bolsonaro, do GSI [comandado por] do general Heleno, que ainda não haviam sido substituídos”.
Imagens exclusivas da CNN mostram Gonçalves Dias no Planalto durante ataque aos Três Poderes
A saída do general ocorre após a divulgação de vídeos exclusivos da CNN do circuito interno de câmeras do Palácio do Planalto. Eles exibem Dias dentro do Palácio durante o ataque aos Três Poderes que ocorreu em 8 de janeiro, mais precisamente às 16h29.
Veja as imagens:
Inicialmente, ele caminha sozinho no terceiro andar do palácio, na antessala do gabinete do presidente da República, tenta abrir duas portas e depois entra no gabinete.
Após alguns minutos, o ministro aparece caminhando pelo mesmo corredor com alguns invasores. As imagens sugerem que ele indica a saída de emergência ao grupo de criminosos.
Em seguida, surgem nas imagens outros integrantes do GSI, que parecem indicar também o caminho de saída para os invasores que estavam no terceiro andar do Palácio do Planalto.
Também é possível ver um capitão do Exército, integrante do GSI, circulando entre alguns invasores. Em uma das câmeras, na antessala do gabinete presidencial, ele faz um gesto a uma invasora e abre uma porta.
O capitão do Exército aparece conversando com alguns invasores e, em seguida, os cumprimenta com um aperto de mão.
Outra câmera do terceiro andar, em outro momento, registra o mesmo capitão do Exército tentando conter um dos vândalos. No entanto, o responsável pela segurança não reage quando outro criminoso pega um extintor de incêndio.
Segundo apuração da reportagem, o capitão do Exército e responsável pela segurança do Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro, atualmente, não integra mais a equipe do GSI.
*Publicado por Tiago Tortella e Fernanda Pinotti, da CNN