Após bater o Palmeiras, Tigres e Bayern de Munique fará a final do Mundial de Clubes da Fifa nesta quinta-feira às 15:00 horas

Ciro Campos/ Oestado de São Paulo

A presença do Tigres na final do Mundial de Clubes da Fifa levou o futebol mexicano a um patamar inédito e tem mostrado alguns acertos do diferente formato utilizado pelo país para gerir as equipes. O time da cidade de Monterrey desafia o poderoso Bayern de Munique ao confiar em uma proposta impensável para os padrões brasileiros. A manutenção do técnico por 11 anos e a administração liderada por empresas privadas são alguns exemplos.

O futebol mexicano chega pela primeira vez à final do Mundial após bater o Palmeiras e amargar nos últimos anos várias experiências de quem ficou no quase. Em 2019, por exemplo, o rival do Tigres, o Monterrey, perdeu para o Liverpool com um gol nos minutos finais. No âmbito continental, o México reina. Neste século, somente duas vezes o título da Liga dos Campeões da Concacaf não ficou com um time do país.

O domínio regional mexicano e a consequente chegada inédita à decisão do Mundial se explicam principalmente pelo poderio financeiro. As equipes são privadas e contam, portanto, com bastante dinheiro para investir em contratações. O Tigres pertence a uma universidade particular e a um poderoso grupo fabricante de cimento. Por isso, consegue contratar jogadores como o francês Gignac e o argentino Pizarro. De toda a elite do futebol local, somente o Pumas não tem um dono e é constituído por uma associação civil.

Com empresas grandes no comando, os clubes também ganham credibilidade para atrair mais patrocínios. “No mundo inteiro a razão para que clubes sejam obrigados a se estruturar empresarialmente é simples: é a única forma de receberem investimentos e se organizarem em um modelo de gestão e governança que dá mais segurança para desenvolver iniciativas de médio e longo prazo”, disse o advogado especialista em direito desportivo Pedro Trengrouse. O campeonato local tem exibição internacional para vários países e até mesmo transmissão nas redes sociais.

A forte presença de empresas privadas fazem o campeonato ter mais de 180 jogadores estrangeiros, cerca do triplo do Campeonato Brasileiro. Atletas sul-americanos são a maioria. “Os mexicanos pagam em dólar e a mudança do câmbio nos países sul-americanos aumentou a atratividade”, explicou o empresário Marcelo Robalinho, que atua no mercado de transferências há mais de 20 anos. “No México, há décadas vários clubes são controlados por grandes empresas do país e tiveram durante muito tempo o maior poder financeiro para contratação de atletas entre todos os clubes de futebol das Américas, algo que só foi rivalizado mais recentemente pelos clubes brasileiros”, explicou o advogado especializado em direito desportivo Eduardo Carlezzo.

Os mexicanos pagam em dólar e a mudança do câmbio nos países sul-americanos aumentou a atratividade

Marcelo Robalinho, Empresário

Do ponto de vista esportivo, a presença de estrangeiros também eleva o nível da competição. “Aqui, a maioria (dos jogadores) é convocado para as seleções de seus países. O futebol jogado aqui é muito rápido. Eu, particularmente, evoluí muito nesse quesito de jogar mais rápido. O Campeonato Brasileiro é um pouco mais lento. Aqui é mais rápido, jogam bastante com jogadores abertos, rápidos”, afirmou ao Estadão o volante Rafael Carioca, titular do Tigres.

Mas é claro que sempre a presença mexicana em torneios está associada à memória de times que ficaram no quase. Prova disso foram as seguidas decepções em Mundiais de Clubes anteriores, quando o representante da América do Norte sequer chegou à semifinal. Porém, para o técnico do Tigres, Ricardo Ferretti, é justamente a experiência que tem possibilitado aos clubes do país irem cada vez mais longe.