Vacina contra a covid-19: quando os brasileiros serão imunizados?

Pazuello diz que se Pfizer conseguir adiantar entrega, vacinação emergencial pode começar em dezembro Foto: Frank Augstein/AP Photo/ Estadão

A notícia aguardada há meses no mundo todo foi confirmada: a aprovação de uma vacina contra a covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. A partir de vários projetos promissores, desenvolvidos em uma mobilização inédita de cientistas, os estudos da americana Pfizer e a alemã BioNtech resultaram em um imunizante liberado pelo Reino Unido. Foi o primeiro em um país ocidental. A vacinação começou na terça-feira por lá. Isso significa que há uma saída efetiva para o fim da pandemia.

Mas e agora? Quando será a vacinação no Brasil? Abaixo, as principais perguntas sobre o caminho da aprovação da vacina, passo que ainda falta ser dado para aquela picadinha da agulha deixar os brasileiros mais aliviados.

Datas e prazos de vacinação

Quando começa a vacinação no Brasil?

A previsão inicial era começar a vacinação em março. Em reunião com governadores na terça-feira, 8, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, prometeu começá-la no fim de fevereiro. Nessa quarta-feira, 9, Pazuello disse que as primeiras doses podem ser aplicadas em caráter emergencial em dezembro ou janeiro. Ele não marcou um dia específico.

Qual vacina será aplicada?

Por enquanto, o governo brasileiro garantiu 100 milhões de doses do imunizante da AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford, que também será produzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O Ministério da Saúde também sinalizou a compra de 70 milhões de doses da vacina da Pfizer. O Brasil deve receber vacinas pelo consórcio Covax, ainda indefinidas.

A população terá que pagar?

Não. A vacina será gratuita para todos através do Sistema Único de Saúde (SUS).

A aplicação das vacinas pode ser feita na rede privada?

A princípio, não. As negociações dos laboratórios e farmacêuticas estão restritas aos governos nacionais e estaduais. Walter Cintra, professor de Especialização em Administração Hospitalar e de Serviços e Sistemas de Saúde da FGV, lembra que as negociações estão sendo feitas em grandes escalas. “Quando o governo compra, o contrato se refere a milhões de doses. Não acredito que os laboratórios privados farão compras nessa quantidade”, opina.

As vacinas já estão aprovadas no Brasil?

Não. O Brasil ainda não tem uma vacina aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Algumas farmacêuticas estão compartilhando resultados prévios para agilizar a análise para o registro.

Médica prepara uma dose de vacina contra a covid-19. Foto: Hans Pennink/AP Photo

De acordo com o Ministério da Saúde, serão vacinados idosos com 75 anos ou mais, profissionais de saúde e indígenas.

Por que esses grupos serão imunizados em primeiro lugar?

O virologista Rômulo Neris, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que a ideia mais difundida entre os especialistas no mundo é dar preferência aos indivíduos que apresentam risco elevado de contrair a covid-19 na hora da imunização. “O maior grupo de risco é o de idosos. Por isso, eles encabeçam a lista. Além disso, indivíduos que apresentam maior risco de exposição ao vírus e aos grupos de risco também deve ser vacinados. Isso inclui profissionais da saúde”.

Como será a distribuição das vacinas?

A campanha de imunização será dividida em quatro etapas. Cada uma delas deve alcançar uma parcela dos brasileiros. Na primeira fase, o foco está nos trabalhadores da saúde, comunidades indígenas e população idosa com mais de 75 anos. Na segunda fase, o foco são os idosos com idades entre 60 a 74 anos. Na etapa seguinte, as campanhas vão imunizar pessoas com comorbidades, aquelas com risco maior chance de complicações. Por exemplo, pacientes com doenças renais crônicas e cardiovasculares. Na quarta fase, serão vacinados os professores, as forças de segurança e salvamento.

E quem não está dentro do grupo prioritário?

Ainda não há definição sobre a vacinação do restante da população.

A vacina tem contraindicações?

Por enquanto, apenas a vacina da Pfizer, aplicada no Reino Unido, apresentou reação em duas pessoas após o começo da vacinação em massa no país. Quem tem histórico de reações alérgicas graves a medicamentos, vacinas ou alimentos não deve tomar o imunizante por enquanto.

A vacina demora quanto tempo para fazer efeito?

De acordo com a Pfizer/BioNTech, a única aprovada entre os países ocidentais, há redução de risco logo após a primeira dose, inclusive de contaminação grave. No caso da segunda dose, aplicada no intervalo de 21 dias, o risco de contaminação cai até sete dias depois.

Quem já teve a doença causada pelo novo coronavírus deve ser vacinado?

A pergunta divide os especialistas. O virologista Paulo Eduardo Brandão, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP), afirma que sim. “A imunidade é de curta duração. A pessoa tem que ser vacinada para se proteger de uma reinfecção. Para a infectogista Sylvia Lemos Hinrichsen, a resposta ainda não está pronta. Mônica Levi, presidente da Comissão de Revisão de Calendários Vacinais da Sociedade Brasileira de Imunizações, afirma que a imunidade depois da doença ainda está sendo estudada. “Como a gente desconhece a imunidade a longo prazo dessa doença, é recomendado que a vacina seja aplicada também para quem tem histórico da doença”, afirma.

Qual é a eficácia das vacinas?

A vacina de Oxford possui eficácia média de 70%, dado obtido a partir de dois usos diferentes. No primeiro, os voluntários receberam metade de uma dose e, um mês depois, uma dose completa. Nesse grupo, a eficácia foi de 90%. O segundo grupo recebeu duas doses completas. Aqui, a eficácia foi de 62%. A Pfizer relatou 95% de eficácia do produto em testes. Os resultados foram publicados nesta quinta-feira, 10. A Coronavac vai divulgar os dados na semana que vem. Em novembro, um estudo publicado na revista científica Lancet Infectious Diseases informou que ela produz resposta imune no organismo 28 dias após sua aplicação em 97% dos casos. A vacina da farmacêutica AstraZeneca e da Universidade de Oxford tem eficácia de 70%, segundo estudo da revista Lancet. Moderna e Sputnik V anunciaram dados de 94% e 92%, respectivamente.

Para os pesquisadores responsáveis pelo boletim, a flexibilização das medidas de isolamento e o aumento de situações de aglomeração são os causadores do novo ciclo de avanço da doença Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO

Quantidade de vacinas

Quantas vacinas o Brasil já tem?

Cerca de 300 milhões de doses estão garantidas para 2021, de acordo com o governo federal. Cada indivíduo precisará tomar duas doses. Isso significa que existem vacinas para 150 milhões de pessoas. O Ministério da Saúde assinou uma carta de intenção, como uma promessa de compra, para mais 70 milhões de doses.

Essa quantidade é suficiente?

Para o epidemiologista Pedro Hallal, reitor da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, os números são razoáveis. “São números razoáveis, mas me preocupa não ter nenhuma indicação sobre a Coronavac, que está pronta, e também nada sobre a vacina da Moderna. Quantitamente os números parecem adequados, mas, na prática, eu não sei quando essas vacinas estariam disponíveis para a população brasileira, que é o que mais importa”, alerta o pesquisador.

Quais são essas vacinas?

Existem acordos com o laboratório AstraZeneca e da Universidade de Oxford para 260 milhões de doses. Outras 42 milhões chegarão do consórcio mundial Covax Facility – a vacina não está definida. As outras 70 milhões são da americana Pfizer.

Quando elas começam a chegar?

Quinze milhões dessas doses começam a chegar em janeiro. As primeiras 8,5 milhões de doses da Pfizer devem chegar ao País no primeiro semestre.