Menina de 10 anos estuprada pelo tio passa bem de após aborto legal

(foto: ARTHUR SOUZA/LEIAJÁ IMAGENS/ESTADÃO CONTEÚDO )

Profissionais de saúde responsáveis pela interrupção da gestação da menina confirmaram a realização do procedimento. A menina foi transferida de São Mateus, no Norte do Espírito Santo, para o Recife, capital de Pernambuco, após decisão do juiz Antonio Moreira Fernandes, da Vara da Infância e da Juventude do município onde ela mora. Desde domingo, a menina está internada no Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam-UPE), que fica no Bairro da Encruzilhada. Ao longo do dia, diversas pessoas se manifestaram, a favor e contra o procedimento médico, que é assegurado pela lei em caso de estupro e quando a gravidez representa risco para a mãe.

O caso se tornou público depois que a menina deu entrada no Hospital Roberto Silvares, em São Mateus, se sentindo mal. Enfermeiros perceberam que a garota estava com a barriga estufada, pediram exames e detectaram que ela estava grávida de cerca de três meses.

De acordo com o gestor executivo e diretor do Cisam, o médico Olímpio Barbosa de Morais Filho, o procedimento de interrupção da gestação, pelo qual ele foi responsável, teve início no domingo e foi finalizado ontem.  “Ontem (domingo) mesmo foi procedido o óbito fetal, então não tem mais vida, o feto. E hoje (ontem) vamos proceder com o esvaziamento, que é para causar contrações para expulsão do feto. E esperamos, a partir de amanhã (hoje), em algum momento, que ela tenha condições de alta”, afirmou na manhã de ontem. Questionado sobre o estado de saúde da menina, o médico disse que “ela está bem, com apoio psicológico, assistência social e a avó. Está tendo algumas contrações, cólicas, mas está bem”.

Segundo a coordenadora de enfermagem do Cisam, Maria Benita Spinelli, a instituição optou pelo tipo de procedimento menos invasivo possível. Benita Spinelli explicou ainda que a menina deveria sentir algumas dores de contrações, mas que são dores esperadas e que não demonstram risco para a paciente. “Elas estão bem (a menina e a avó), acolhidas, estão em uma enfermaria, sendo bem cuidadas por toda a nossa equipe profissional e aguardando o desfecho. Assim que ela estiver bem, em condições de alta, sem nenhum sangramento ou processo infeccioso, ela poderá voltar para a cidade dela.”

Protestos 

No domingo, grupos religiosos fizeram atos, numa espécie de barreira humana na frente do Cisam para tentar impedir a entrada do médico responsável pelo procedimento na unidade de saúde. Ao chegar ao local, o médico foi recebido aos gritos de “assassino”. Vídeos do momento circulam nas redes sociais.

À noite, já com boatos de que a gestação havia sido interrompida com segurança para a menina, um movimento de apoio e suporte às mulheres também se mobilizou na frente do Cisam. O vídeo mostra mulheres repetindo juntas, em voz alta, um discurso proferido por uma delas.

“Dentro da maternidade, em alguns momentos, a gente escutava alguns ruídos lá de fora (dos protestos), mas conseguimos manter a menina fora e alheia ao que estava acontecendo lá. A gente sabia o que era, mas no nosso espaço estávamos cuidando dela. Fazendo o procedimento acontecer, explicando a ela direitinho. Para que ela se sentisse acolhida e segura com quem estava ali com ela. Afinal de contas, foi o nosso primeiro contato com ela”, afirmou Benita.

Justiça 

Os protestos ocorreram depois que a extremista Sara Giromini (Winter) divulgou o nome da criança, o hospital onde ela estava e disse que “o aborteiro está a caminho”. Mas a Justiça do Espírito Santo atendeu pedido da Defensoria Pública do Estado e deferiu liminar na noite de domingo, determinando que o Google (Youtube), o Facebook e o Twitter retirassem, em 24 horas, “informações divulgadas em suas plataformas sobre a menina. O juízo estabeleceu multa diária de R$ 50 mil em caso de descumprimento.

A defensora pública Maria Gabriela Agapito afirmou que a decisão foi dada no âmbito de uma ação civil pública que foi apresentada com base no Marco Civil da Internet. “Há de se tomar muito cuidado nesse momento. Essa menina já foi vítima de muita violência e o que ela precisa agora é restabelecer a sua vida, assim como a sua família. É necessário diminuir a exposição para evitar sua revitimização”, afirmou Maria Gabriela.