PF investiga por que invadiram celular de Moro e demais autoridades

Os quatro hackers presos em São Paulo invadiram celulares de mil autoridades, entre eles o do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro.

Com a prisão de quatro suspeitos de invadir o celular do ministro da Justiça, Sérgio Moro, a Polícia Federal agora se concentra na busca pelas motivações do crime.

Os investigadores também querem saber se outras pessoas estão envolvidas no caso, o que deve gerar novas fases da Operação Spooling, que apura o acesso ilegal a celulares de diversas autoridades, como juízes federais e delegados.

No apartamento de dois suspeitos, os agentes encontraram R$ 100 mil em espécie, dentro de uma mala. Além disso, movimentações financeiras no valor de R$ 627 mil entre março e julho deste ano na conta dos acusados chamaram a atenção dos investigadores.

Até o momento, as diligências apontam para um grupo especializado na invasão de aparelhos telefônicos com a finalidade de acessar contas de aplicativos de mensagens e extorquir dinheiro de parentes e amigos das vítimas. No entanto, o caso ainda está em fase inicial, e as informações colhidas até agora não permitem que a PF chegue a uma conclusão sobre o assunto. Os suspeitos Danilo Cristiano Marques, Walter Delgatti Neto, Gustavo Henrique Elias Santos e a mulher dele, Suelen Priscila de Oliveira, foram presos em Araraquara (SP), Ribeirão Preto (SP) e na capital paulista. Eles estão detidos em Brasília: dois na Superintendência da PF e dois na carceragem da corporação, no Aeroporto Juscelino Kubitschek.

O advogado Ariovaldo Moreira, que defende Gustavo, afirmou que o cliente chegou a receber, por computador, parte dos diálogos que estavam em poder de Walter Delgatti Neto, também preso na operação.

“Segundo relato do Gustavo, o Vermelho (apelido de Walter) mostrou pra ele algumas interceptações de uma autoridade (Sérgio Moro), tempos atrás”, disse. Moreira contou que o cliente fez prints das mensagens recebidas.

“O que ele me disse é que ele chegou a ver isso no computador dele. Inclusive, printou (captura da imagem da tela) isso no computador. E ele me disse que no aplicativo dele, devolveu a mensagem para o Walter, dizendo que ele teria problemas”, completou o defensor.

O dinheiro achado no apartamento, de acordo com o acusado, é fruto de compra e venda de uma moeda virtual. “O Gustavo é DJ e disse que estava operando a compra e venda de Bitcoins. Ele disse que tem como provar isso”, ressaltou o advogado. A investigação da Polícia Federal aponta que os detidos estão por trás de diversos ataques a integrantes do Executivo, Legislativo e Judiciário. Além disso, fontes na corporação descrevem que jornalistas também estão entre os alvos.

Outra suspeita é de que o mesmo grupo seja autor da investida cibernética contra procuradores que integram a Operação Lava-Jato no Paraná. Em depoimento à PF, Walter Delgatti Neto confirmou que atuou na invasão do celular de Moro e de outras autoridades.

“Há fortes indícios de que os investigados integram organização criminosa para a prática de crimes e se uniram para violar o sigilo telefônico de diversas autoridades públicas brasileiras, via invasão do aplicativo Telegram”, citou o juiz na decisão.

Durante o cumprimento dos mandados de busca, na terça-feira, os policiais encontraram, no computador de um dos investigados, atalhos que davam acesso a diversas contas do Telegram, entre elas, a de Moro. Pelo menos mil contas estão registradas nos atalhos, o que indica o número de vítimas. No entanto, os investigadores aguardam o avanço das diligências para confirmar a amplitude do ataque.

O diretor do Instituto Nacional de Criminalística, Luiz Spricigo Júnior, afirmou que o foco agora será sabe quem foram os alvos. “No celular do investigado havia uma conta ligada ao ministro Paulo Guedes (da Economia). Precisamos investigar, mas existem fortes indícios que o ministro também foi vítima”, ressaltou Spricigo.

VENDER PARA O PT

O advogado Ariovaldo Moreira afirmou ontem à noite que o DJ Gustavo Henrique Elias Santos disse em depoimento à Polícia Federal que a intenção de Walter Delgatti Neto, apontado como o hacker que invadiu os celulares do ministro Sérgio Moro e outras autoridades, era vender ao PT as mensagens que obteve. Moreira deu as declarações após os depoimentos prestados por Gustavo Santos e pela mulher dele, Suelen Priscila de Oliveira, na Superintendência da Polícia Federal em Brasília, onde estão presos.

Segundo o advogado, Gustavo Santos disse aos investigadores que ouviu essa versão do próprio Walter Delgatti. “Essa informação, isso daí está nos autos, é oficial. Então, ele confirma que o Walter mandou mensagem para ele, mandou inclusive parte da interceptação telefônicado juiz Sergio Moro e a intenção, segundo ele, o meu cliente, ele dá conta de que o Walter disse a ele que a intenção era vender esse produto, essas informações, para o Partido dos Trabalhadores”, declarou.