Palocci em depoimento a Sérgio Moro no ano passado. Em delação premiada, ele diz que Lula sabia da corrupção na Petrobras
A delação do ex-ministro Antônio Palocci – ou pelo menos o trecho dela que veio a público – decepcionou quem esperava uma bomba nuclear. Perto do que se anunciava no ano passado, veio apenas mais uma explosão convencional, como tantas outras da Operação Lava Jato.
Não que os fatos relatados contra o PT deixem de ser escandalosos. Mas a maior parte deles já era conhecida. Sem entrar em detalhes, Palocci narra sua versão para histórias já exploradas à exaustão, entre elas as negociações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com empresas e partidos beneficiários do petrolão, como MDB ou PTB.
Atribui números genéricos aos esquemas petistas de financiamento eleitoral: R$ 600 milhões à campanha de 2010; R$ 900 milhões à de 2014. Afirma que 900 de 1000 medidas provisórias foram vendidas nos governos petistas. Mas não entra em detalhes sobre quais, quando, por quem e por quanto.
A única denúncia nova envolve os contratos de publicidade da Petrobras, sobre os quais o partido cobrava propinas de 3%, e um personagem secundário no esquema de corrupção: o diretor Wilson Santarosa, objeto de outro anexo da delação, não divulgado.
Fora isso, Palocci se limita a repetir o que todos já sabiam: Lula e o PT comandaram o maior esquema de corrupção na história brasileira por meio da indicação de diretorias na Petrobras e desvio de dinheiro dos contratos da empresa.
Palocci sempre foi homem de confiança de Lula e, apesar das negativas deste e da contestação do PT, sabe do que fala. Conhece o partido por dentro, coordenou campanhas presidenciais de Lula e Dilma Rousseff, foi ministro de ambos e atuou como ponte com empresários e banqueiros.
Por isso mesmo, esperava-se mais dele. Sua delação foi cercada de controvérsia desde o início. O Ministério Público Federal (MPF) se recusou a fechar o acordo porque as provas apresentadas eram insuficientes – e não havia garantia de que seria possível descobrir outras por meio do relato.
Os advogados de Palocci então recorreram à Polícia Federal. O acordo só pôde ser homologado depois de uma decisão do Supremo Tribunal Federal de junho passado. Sem a concordância do MPF. Na homologação, o desembargador João Pedro Gebran dá três meses à PF para obter e apresentar provas dos crimes obtidas por meio da delação.
A falta de evidências concretas para embasar a narrativa de Palocci permitiu que a defesa de Lula emitisse uma negativa furibunda contra as alegações e que o PT visse, na divulgação da delação às vésperas da eleição, uma tentativa de requentar fatos para explorá-los politicamente.
Se é verdade que pode ter havido oportunismo político do juiz Sérgio Moro, a publicação do trecho da delação de Palocci também oferece uma oportunidade ao PT. Até agora, o partido insiste na versão fantasiosa para os escândalos de corrupção que destruíram sua imagem e levaram Lula e tantos outros à cadeia.
Palocci relata as mesmas denúncias pela enésima vez. Mas, em vez de reclamar pela enésima vez de perseguição da Justiça ou de insistir na inocência diante dos milhares de provas acumuladas nos últimos quatro anos, bem que o PT poderia virar o disco. Já passou da hora de o partido fazer seu mea culpa de tentar se redimir pelo que fez no governo.
“Afinal, somos um partido político sob a liderança de pessoas de carne e osso ou somos uma seita guiada por uma pretensa divindade?”, perguntava Palocci num dos depoimentos prestados a Moro. “Chegou a hora da verdade para nós.”
Da cadeia, a “pretensa divindade” aproveitou a “hora da verdade” para ungir Fernando Haddad seu herdeiro e urdir uma estratégia que poderá levá-lo à vitória. O PT parece acreditar que voltará ao poder incólume, sem pagar pelo que fez, sem ao menos um mísero pedido de desculpas, repetindo as mesmas fabulações sobre a conspiração imaginária de juízes, procuradores e imprensa, das elites contra o povo. Veremos como o povo responderá nas urnas.